By Junio Oliveira

 

Diário de Viagem

Dia 1:
Apesar de ser um viajante profissional, encaro toda a viagem como se fosse a primeira, dando um tratamento único e especial, mesmo para destinos já visitados anteriormente, como é o caso agora para Seattle. Mantenho uma rotina bem particular de preparar a mala na véspera, e agora cada vez mais viajo com pouca bagagem, com uma mala de cor pouco convencional e que fácil de localizar. Outra mania é chegar no aeroporto com boa antecedência do horário do voo, geralmente três horas. Considerando que moro numa cidade com o trânsito sempre complicado, especialmente as sextas e vésperas de feriados.
Desta vez não foi diferente, o voo da Air Canada sairia as 20h30min e prontamente as 17h30min já estava no balcão da cia aérea para o check-in que, aliás foi tranquilo e sem atropelos. Depois de passar pelo detector de metais, controle de passaporte, adoro zanzar pelo aeroporto, sentir o frisson de pessoas prestes a embarcar, ouvir uma conversa alheia... e depois sentar, beber um drinque e relaxar a espera do voo.
O voo Air Canada 091 com destino a Toronto partiu dentro do horário, numa moderna aeronave da Boeing, o 787 Dreamliner. Serviço de bordo atencioso e apesar de ultimamente as refeições servidas nas aeronaves tem praticamente o mesmo gosto, o jantar foi especialmente saboroso.
Chegada em Toronto, como o destino final seria Seattle, fizemos imigração para os Estados Unidos dentro do aeroporto de Toronto, sem aquelas filas enormes nas imigrações de Miami, Nova Iorque ou outra cidade americana. Ponto para essa rota via Canada.
O voo Air Canada 0543, de Toronto para Seattle é um A319, um avião um pouco mais antigo, porém funcional.

Dia 2
Seattle é uma cidade que me encanta mais em cada visita. Eu aprecio o tamanho, a qualidade de vida, o jeito jovem dos habitantes, em sua maioria que trabalham para empresas de tecnologia, a cidade é o berço da Microsoft, Amazon, Boeing, entre outras. É difícil encontrar pessoas vestindo ternos e tailleurs pelas ruas...o clima mais informal impera. E apesar de ser uma cidade “pequena” a qualidade dos restaurantes, shows, museus eu comparo com grandes metrópoles, como NYC.
Dessa vez foi apenas uma rápida passagem por Seattle para ver o novo apartamento do meu enteado, que mora num bairro super cool, Capitol Hill, com suas ruas sempre abarrotadas de pessoas descoladas.
Já é tradição sempre almoçarmos no restaurante chinês Din Tai Fung, que é considerado um dos melhores da cidade, os dimsuns são extremamente deliciosos, o ideal é pedir vários e compartilhar.
Outra atração imperdível na cidade é o Parque de Esculturas, um espaço com muito verde, com trilha demarcada para correr e pedalar e com obras da arte espalhadas pelo parque – artistas consagrados como Richard Serra, Calder entre outros têm obras expostas no parque.
E sempre dou uma passadinha no Mercado Publico, para ver os peixes frescos, saber as frutas da estação, as flores e etc...
No jantar fomos para uma área que não conhecia em Seattle, uma rua charmosa, cheia de restaurantes pequenos, lojinhas transadas e bares com muita gente jogando conversa fora. Reservamos uma mesa no Carnivore, restaurante com pegada orgânica, onde experimentei um frango grelhado que tinha um tempero delicioso.
À noite passamos no novo Loews 1000 Seattle, hotel no centro da cidade que passou por uma recente reforma. Não é luxuoso, porém bem confortável.

Dia 3
Embarque para a aventura Canadense. Como queríamos aproveitar ao máximo os dias em Vancouver, embarcamos bem cedo e o voo é bem curto, cerca de meia hora. O procedimento de imigração é super-rápido, depois que instituíram autorização eletrônica de viagem, o visto é concedido após pagamento de taxa de CAD7, emissão imediata.
No Canadá o uber não funciona, então táxi é a melhor opção para quem viaja com mala. O aeroporto tem transporte público para o centro da cidade, porém, não usamos.
Vancouver é daquelas cidades que surpreendem desde o primeiro momento, com suas ruas largas e bem sinalizadas, com calçadas planas e ciclovias por todos os lados.
Como a cidade é banhada pelo mar, nossa primeira experiencia de restaurante foi no Joe Fortes, um tradicional restaurante de frutos-do-mar. Por ser um domingo, o menu era um brunch, porém mesmo assim pudemos desfrutar de ostras, lagostas e outras iguarias.
Um tour imperdível é sobrevoar a cidade de hidroavião para ter a noção exata da dimensão e beleza da cidade. O terminal de hidroavião fica bem próximo do local onde esta a pira olímpica dos jogos de inverno de 2010 – chamado Canadian Place.
A cidade conta com bons museus como o Vancouver Art Gallery e o Museu de Antropologia. Como o tempo na cidade era curto, decidimos pelo Art Gallery, que estava com uma mostra de artistas contemporâneos canadenses.
Vancouver é uma cidade que tem 1/5 da sua população proveniente da Ásia, especialmente Japão, então considerando a qualidade dos peixes do pacífico e a destreza dos japoneses, reservamos o restaurante Japonês Miku. Eu não sou um grande apreciador da culinária japonesa, porém meus companheiros de viagem gostaram da experiência.
Para hospedagem, decidimos pelo Hotel Shangri-la, um 5 estrelas que ocupa o segundo prédio mais alto da cidade. O hotel tem decoração bem intimista, com toques asiáticos, um spa Chi imperdível e o restaurante Mark by Jean Geroges que é um clássico na cidade.

 

Dia 4
A cidade é plana e bem servida de ciclovias e ainda com um parque lindíssimo, o Stanley Park, que praticamente te obriga e alugar uma bicicleta para explorar as ruas e alamedas da cidade e do parque.
Optamos pela manha para fazer um tour privativo pela cidade, com uma guia brasileira que mora faz 20 anos na cidade e nos contou maravilhas e curiosidades sobre os costumes locais.
Outro lugar imperdível na cidade é a Greenville Island, com seu mercado municipal abarrotado de guloseimas, frutas, sanduíches, legumes, peixes frescos e uma infinidade de barraquinhas... e de quebra tem os silos com um trabalho impressionante dos artistas brasileiros “Os Gêmeos”, um passeio imperdível pela cidade.
Além da influência japonesa, a cidade tem uma enorme variedade de restaurantes italianos, como era o feriado de Thanksgiving Canadense (eles comemoram um mês antes dos americanos), reservamos o moderno Italian Kitchen para um gostoso almoço regado a um vinho da região de Toscana e muitas gargalhadas.
Fim de tarde, nada melhor que relaxar no Spa do hotel e reservar energias para a noite.
Reservamos uma mesa no famoso Hawksworth, do premiado chef David Hawksworth, que fica no Hotel Georgia by Rosewood. O chef, aliás assina o cardápio da classe executiva da Air Canada. O local tem uma decoração moderna e clean e que contrasta maravilhosamente com as opções do menu, uma viagem pela alta gastronomia utilizando produtos locais.

Dia 5
Dia reservado para as atividades culturais. A primeira parada foi no Vancouver Art Gallery, museu de arte moderna e contemporânea, que fica no coração da cidade e tem uma vasta coleção de arte. Na visita pudemos apreciar a exposição da artista canadense Emily Carr, que é considerada a grande artista canadense, com obras voltadas para temas como a natureza, e seus quadros são os mais valiosos do mercado, aliás a coleção do museu conta com mais de 200 obras da artista, que faleceu em 1942.
Na sequência, fomos para o Museu de Antropologia, que fica dentro da Universidade de Vancouver (UBC) e ocupa um prédio belíssimo. O museu fica cerca de meia hora de táxi do centro da cidade, porém ajuste bem o seu tempo para apreciar o acervo do museu, com seus tótems e toda historia canadense. Um programa imperdível.
A noite começamos nossa aventura pelas Montanhas Rochosas, um dos lugares mais espetaculares do planeta. Para chegar em Jasper, a primeira parada do nosso roteiro, tínhamos duas opções; o Rocky Mountanier, um trem de luxo que parte de Vancouver pela manha e o Via Rail, que tem configuração em econômica, sleeper e Prestige e parte a noite, sem paradas até Jasper. Decidimos pela Via Rail, por causa do horário. A suíte Prestige não é muito grande, porém, para uma viagem de 20 horas, tem uma cama super confortável. Na saída, é servido Champagne com canapês e na sequência, as camas são preparadas e todos vão dormir. Aliás, fiquei surpreso como os canadenses dormem cedo.
Foi uma noite tranquila, porém descobri que os trens de passageiros usam a mesma linha que os trens de carga, que tem preferencia sobre os passageiros, então sempre ocorre muitas paradas para ceder lugar aos trens de carga e isso acaba gerando atrasos contínuos e frequentes – a média é entre 1 hora até 4 horas. No nosso caso durou “apenas” duas horas.
O café da manha é servido entre 6h00 e 9h00, e recomendo deixar para ficar o máximo de tempo possível na cama e ir para o café próximo do último horário.
Entre o café da manha e o almoço, as atrações do trem não agradam muito ao gosto brasileiro, então leve livro, máquina fotográfica, computador e aproveite o tempo livre – ou volte para cabine para descansar, aliás quando você está no café da manha eles trocam a roupa de cama...
A cabine restaurante é a mesma do café da manha, se você não quer interagir com os outros passageiros, considere almoçar próximo do último horário, as 14h00, quando está mais tranquilo.
O trem está programado para chegar em Jasper as 16h00, porém como os atrasos são constantes, nosso trem chegou as 18h00, restou só retirar o carro na locadora e ir para o hotel.
Reservamos o Fairmont Park Lodge, um hotel com mais de 100 anos e que fica na beira de um lago lindíssimo. Depois do check-in fomos direto para a piscina descoberta e aquecida, aliás, o frio estava dilacerante – 2 graus negativos.
A ideia da piscina, seguida de sauna a vapor e massagem foi uma excelente ideia para relaxar depois de horas e horas dentro do trem.
Resolvemos jantar no restaurante Emerald, o principal do hotel.

Dia 6
Os quartos do hotel são cabanas enormes com camas king size que praticamente abraçam o seu corpo.
Nevou a noite toda e amanhecemos com uma camada de 30 cm de neve. Tínhamos agendado 3 trilhas para fazer – porém por causa da neve e o risco de cairmos, o nosso guia recomendou fazermos tours por trilhas com pavimento, o que foi de certa forma frustrante, porém não poderíamos correr nenhum risco.
Visitamos vários lagos, cachoeiras, montanhas e vilarejos. No retorno tínhamos ajustado um passeio de Skytram ate o alto da montanha de Whistler (que tem o mesmo nome da estação de esqui perto de Vancouver), porém por causa do mau tempo abortamos o passeio e fomos para uma cervejaria local, a Jasper Brewering Company, para almoçarmos. Aliás, uma super ideia, com cervejas produzidas com água de degelo dos glaciares e um salmão delicioso.
No final do dia, outra vez a tríade piscina aquecida – sauna – spa...e também jantamos no hotel.

Dia 7
Acordamos cedo, tiramos toda a neve do carro que, aliás não parava de cair e fomos para Lake Lousie, que fica cerca de 3 horas de carro de Jasper. A viagem pela Iceland Freeway – a rodovia que liga as duas cidades, é considerada uma das mais panorâmicas estradas do mundo. O trecho ate poderia ser realizado em menor tempo, porém a quantidade de paradas para fotos e para admirar o belíssimo percurso, torna a viagem um pouco mais demorada, porém agradabilíssima.
A chegada no Fairmont Chateau Lake Lousie foi repleta de wows, todos embasbacados com a beleza do lugar. Check-in feito, corremos para encontrar o guia que nos levaria pela Nature Walk, uma agradável caminhada por uma trilha que circunda o Lago Louise.
No final do dia, outra vez a dobradinha piscina-sauna-spa se fez presente.
Para jantar, reservamos o aristocrático Fairview com especialidade em frutos-do-mar. Como o sol se põe as 19 h, o restaurante fica lotado ate esse horário, reservamos mesa para as 20h30, e para variar o restaurante já estava quase vazio. O costume deles jantarem muito cedo contrasta com o nosso, de jantar sempre tarde – e olhe que 20h30 não é tarde.

Dia 8
O mesmo guia do dia anterior nos levou para uma região de cânions e cachoeiras que é imperdível, Johnny Cannyons, fica cerca de 40 min de Lake Louise, porém o lugar é espetacular, as trilhas são bem demarcadas e recomendo chegar cedo para evitar os turistas que chegam mais tarde e lotam a trilha.
Check-out feito no hotel e hora de seguirmos para a última aventura, dessa vez em Banff, que fica cerca de uma hora de Lake Louise. A estrada é a mesma e seus olhos agradecem pelo espetáculo durante o caminho.
Check-in feito no Fairmont Banff Springs – aliás, recomendo reservar o Fairmont Gold, que é um andar exclusivo, com quartos renovados, check-in privativo no andar e drinks, canapés e café da manha de cortesia aos hospedes do Fairmont Gold.
Como dispúnhamos de poucas horas na cidade, a primeira parada foi na Gondola, que te leva ao alto da Sulfur Montain, que tem a melhor vista da cidade e região. A subida dura meros 7 minutos, porém aproveite o tempo para tirar varias fotos.
Depois de aproveitar a trilha do cume da montanha, faca uma parada no Sky Bistro que tem drinques excelentes e uma vista arrebatadora.
Hora de descer a montanha e ir para o Banff Hot Springs, um lugar que desde 1886 atrai uma horda de turistas para banhos em suas águas termais e sulfurosas. Para muitos é uma atração pega turista, porém acho que vale a visita – porque muitos locais depois de um dia extenuante de trabalho, vão para o local para relaxar e aproveitar as águas termais. A piscina não é coberta e a temperatura da água beira os 40C, enquanto externamente sempre abaixo de 0C.
Como o local fica na montanha sulfurosa, a água e a fumaça que sai dela exala um cheiro de sulfúrico, porém não muito acentuado.
Hora de regressar para o hotel e descansar para o jantar. Reservamos para nossa última refeição da viagem o restaurante 1888, que é considerado o melhor da região. O nome faz alusão ao ano de fundação do hotel e para nos brasileiros, remete ao ano de abolição da escravidão no Brasil.
Foi uma experiência gastronômica inesquecível, eu pedi uma combinação grelhada de lagosta, camarão e vieiras, sobre uma camada de purê de batata que era de comer de joelhos, acompanhada de um vinho californiano sugerido pelo somelier que tornou a combinação uma verdadeira festa de babete. Nada melhor para encerrar uma viagem perfeita.

Dia 9
Deixamos o hotel em direção a Calgary, que tem o maior aeroporto da região, hora de despedidas, uns indo para Seattle e outros regressando para São Paulo.